
Um dos caminhos para impulsionar as economias de África e das Caraíbas, de forma a torná-las mais robustas, passa, entre outras soluções, pela utilização dos seus recursos como factor de desenvolvimento, colocando de lado a simples exportação em bruto das suas matérias-primas.
Esta é a conclusão a que chegou, ontem, em Adis Abeba, Etiópia, o Presidente em exercício da União Africana, o Estadista angolano João Lourenço.
Ao intervir na sessão plenária de alto nível da II Cimeira África-CARICOM, subordinada ao tema “Forjar Relações mais fortes entre África e a Região das Caraíbas no Domínio da Economia”, João Lourenço disse que é necessário potenciar esses recursos por via da agregação de valor.
O líder da União Africana falou, também, da importância de se apostar numa estratégia de diversificação da economia, para torná-la mais resiliente e mais capaz de enfrentar as flutuações dos mercados e a definição dos preços das suas commodities, em que disse não terem, hoje, nenhuma participação.
“Esses objectivos só poderão ser alcançados se agirmos com coesão e com uma férrea vontade de superarmos barreiras e fazer face às complexidades que decorrem da volatilidade dos mercados, que, em regra, afectam as nossas economias, geralmente muito dependentes de apenas um ou outro produto de exportação”, destacou João Lourenço, para quem estas distorções só poderão ser corrigidas se os dois blocos regionais estiverem unidos e decididos a não vacilar na concretização das estratégias voltadas para o desenvolvimento das duas regiões.
Apesar da “profunda” ligação histórica e cultural entre a África e as Caraíbas, o estadista angolano referiu que esta conexão entre as duas regiões não se reflecte nas relações económicas e comerciais entre ambos os blocos, cujo nível disse estar muito aquém do seu verdadeiro potencial.
“É justamente para mudar este quadro que se destaca o compromisso comum África-CARICOM de fortalecer as relações económicas, com base em documentos fundamentais das nossas organizações regionais, de que destaco a Agenda 2063 da União Africana, em que se sublinha, de entre os seus objectivos prioritários, a promoção da integração económica continental, o fortalecimento das parcerias com a diáspora africana e a intensificação da cooperação Sul-Sul”, aclarou.
Além da Agenda 2063, o Presidente João Lourenço referiu-se, também, ao Plano Estratégico da CARICOM 2020–2030, outro instrumento reitor das relações entre as duas regiões, que reconhece a importância da diversificação dos parceiros económicos e do fomento das relações mais sólidas com o continente africano, especialmente nas áreas do comércio, investimento, inovação tecnológica e segurança alimentar.
“Estes dois documentos estratégicos convergem numa visão comum sobre o pleno aproveitamento das complementaridades económicas entre África e as Caraíbas como alicerce para um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável”, salientou.
O Presidente da União Africana enfatizou que as potencialidades conjuntas dos blocos são notáveis, tendo, neste capítulo, referido que o continente africano oferece um mercado continental em expansão, consolidado pela Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), um dos maiores projectos de integração económica do mundo, que abre um espaço de comércio estimado em mais de 3,4 biliões de dólares.
No quadro da cooperação entre os dois blocos regionais, João Lourenço sublinhou que, do lado das Caraíbas, se pode tirar proveito do capital humano, que considerou qualificado, da excelência dos serviços que presta, da capacidade logística e da experiência fortemente consolidada na gestão de riscos climáticos e turismo sustentável.
Destacou o facto de haver, ainda, alguns instrumentos conjuntos, com os quais já lidam, nomeadamente o Afreximbank, que afirmou estar a desempenhar um papel central no financiamento e na promoção das trocas comerciais, bem como o Sistema Pan-africano de Pagamentos e Liquidações (PAPSS), que oferece uma plataforma inovadora para facilitar transacções rápidas e seguras em moedas locais.
Zona de comércio livre de barreiras tarifárias
Para uma cooperação cada vez mais forte entre as duas regiões, o líder em exercício da União Africana sugeriu a criação de zonas de comércio preferencial livres de barreiras tarifárias e não tarifárias.
João Lourenço disse que a concretização destes propósitos exige que se cuide da comunicação entre os dois blocos, por via aérea e marítima, para lhes tornar mais próximos e contribuir para a intensificação dos contactos entre homens de cultura, académicos, pesquisadores e empresários, que passariam a ter maiores facilidades na realização de investimentos directos nas economias de ambas as regiões.
“É claro que, para avançarmos nestas direcções, teremos que encontrar soluções financeiras que as viabilizem, devendo pensar-se no aprofundamento da cooperação entre os bancos de desenvolvimento regionais, nomeadamente o Banco Africano de Desenvolvimento e o Banco de Desenvolvimento das Caraíbas, os quais poderiam ajudar a criar, em articulação com parceiros internacionais, mecanismos de financiamento climático, com enfoque na adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, que têm uma incidência particularmente intensa nas Caraíbas”, declarou.
Para a continuidade dos diálogos mantidos durante a Cimeira, o estadista angolano defendeu a criação de plataformas institucionais permanentes, como o Fórum Ministerial África-CARICOM, o Conselho Empresarial Afro-Caribenho e mecanismos especializados de diálogo entre as respectivas comissões técnicas da União Africana e da CARICOM.
Esses mecanismos, esclareceu João Lourenço, teriam a tarefa de elaborar estudos e propostas que visem ao aprofundamento da colaboração entre as duas regiões, além de contribuir, de forma significativa, para a harmonização dos posicionamentos que forem assumindo, a fim de falarem a uma só voz no cenário mundial.