
Num pequeno balcão, entre ferramentas e peças de telemóveis, Eliane Patrícia Filho da Silva, de 28 anos, desafia diariamente os estereótipos de género que ainda persistem na sociedade angolana.
Natural de Luanda, estudante de Direito e mãe de uma menina de seis anos, Eliane da Silva encontrou na reparação de telemóveis não apenas uma fonte de rendimento, mas também uma forma de afirmar a sua independência e competência num campo tradicionalmente dominado por homens.
Eliane da Silva trabalha numa das empresas de conserto de telefones da Cidade da China, situada na província do Icolo e Bengo. Ali, a técnica desmonta, analisa e repara falhas em aparelhos que lhe chegam diariamente às mãos. O jeito habilidoso e técnico contrasta com a imagem estereotipada que muitos ainda carregam sobre o que uma mulher pode ou não fazer.
“Tudo começou por curiosidade”, conta Eliane da Silva, com um sorriso tímido, enquanto encaixa, com precisão, uma bateria num smartphone. “Trabalhava numa loja de materiais de biossegurança. Parte do espaço foi arrendado por um técnico de telefones e sempre que ele ou o seu assistente, chamado David, estavam a consertar um telefone, eu aproximava-me só para ver. Um dia, o David começou a ensinar-me como abrir os telefones, e foi aí que tudo mudou”, recorda.
Sem qualquer formação técnica formal, Eliane da Silva disse que aprendeu tudo na prática e a observar. “O primeiro telefone que estraguei foi do meu pai. Ele não sabe até hoje. Comprei outro igual, tirei a placa do que estraguei e coloquei no novo. Dei-lhe como se nada tivesse acontecido”, disse.
Eliane conta que no princípio só dava informações aos clientes. “Em seguida, o David começou a ensinar-me como abrir o telefone e a curiosidade aumentou. Com o tempo, comecei a aprender mais”, relembra.
Por detrás da descontracção, Eliane da Silva reconhece que tem uma história marcada por superação, persistência e coragem, por nunca ter tido incentivo da parte da própria família. “O único que acreditou em mim foi mesmo o David. Ele ensinou-me tudo. Depois, outros colegas começaram também a passar algumas dicas. O meu patrão, como está sempre ocupado, só me auxiliava de vez em quando”, relembra.
Mas hoje, com três anos de experiência na área, já conquistou a confiança de muitos clientes.